Rubens Júnior

O conhecimento suplanta as aparências

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Eu particularmente gosto demais dos ácidos e críticos escritos de Voltaire. Ainda que ele seja extremamente anticlerical e crítico das religiões organizadas, ela era teísta, isso já me motiva a lê-lo. Não que eu não leia os ateus. Adoro Feuerbach, que disse: “O homem criou Deus!” Voltaire, nesse caso, não me faria cócegas.

Ele escreveu em seu dicionário filosófico sobre os “preconceitos sentidos” onde terei a ousadia de sintetizar o entendimento em poucas palavras...

Ele começa dizendo que nossos olhos nos enganam, mas não os nossos ouvidos. Alguém diria: “Não nos enganaria os nossos ouvidos ao ouvir mentiras?” Sim, respondo. Mas não é sobre Verdades e Mentiras que trata Voltaire. O que ele diz é que o Conhecimento suplanta as aparências.

Menciona Voltaire uma certa mulher que havia ouvido elogios, mas que ao se olhar no espelho ela percebia a incompatibilidade do que ouviu para aquilo que via no espelho. Percebeu Voltaire que a razão que chega pelos ouvidos pode nos levar à verdade mais do que a simples aparência. O entendimento dele é que os olhos veem como parece, mas os ouvidos nos ensinam como realmente é. Os ouvidos, segundo o autor, transmitem a verdade sem distorções: se alguém fala “és bela”, a mensagem é clara; não há como confundir com “és feia”, ainda que a ouvinte se veja assim. O olhar humano capta apenas a superfície, não a proporção verdadeira das coisas.

Os sentidos, i.e., aquilo que vimos, não são mentirosos em si, mas limitados. Ele cita esse exemplo: O olho vê o sol pequeno demais porque é visto pelo observador de acordo com a sua posição. A verdade, nesse caso, repousa nos ouvidos que ouve e sabe que o sol não é pequeno assim; os ouvidos corrigem os enganos da visão. Ele cita a óptica como caminho para corrigir esse equívoco: o estudo mostra que Deus não nos enganou, e sim que o erro está na forma como interpretamos as aparências, ou seja, a aparência nem sempre corresponde à realidade.

Preconceitos sentidos” de Voltaire, indica que a confiança cega nos sentidos, gera preconceitos ou juízos errados, porque eles são falíveis e ilusórios. Mas a palavra não, ela é o veículo da verdade.

Voltaire não é nem um pouco Positivista.

FONTE: Dicionário Filosófico de Voltaire

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